O QUE É MAXIMALISMO INTERPRETATIVO

 

JAMES B. JORDAN

 

De tempo em tempo pessoas me questionam sobre “maximalismointerpretativo”.
Elas querem saber o que é, e algumas vezes querem saber se o
mesmo representa algum afastamento da abordagem Reformada histórico gramatical,
bíblico-teológica para com a Bíblia.

Tenho certo problema com essas perguntas, visto que “maximalismo
interpretativo” não é uma nova abordagem a algo, e na verdade não é um
termo que eu tenha utilizado em meus livros, embora tenha usado algo muito
similar. Contudo, a pergunta é legítima, visto que volta e meia alguns fazem
menções em resenhas ao “maximalismo interpretativo”, como se fosse algo
peculiar a alguns escritores e não outros.

Agora, de onde vem toda essa conversa sobre “maximalismo
interpretativo”? Em primeiro lugar, vem diretamente da introdução que David
Chilton faz ao seu excelente comentário sobre o Apocalipse, The Days of
Vengeance (Ft. Worth, TX: Dominion Press, 1987), pp. 36ss. Chilton estabelece
o ponto que tudo na Bíblia, cada detalhe, é importante. Ele também mostra
que tudo no Antigo Testamento aponta para Cristo. Em sua discussão, ele me
agradece por deixar esses dois pontos claros na introdução ao meu livro Judges:

God’s War Against Humanism (Tyler, TX: Geneva Ministries, 1985), e diz que
eu chamo isso de “maximalismo interpretativo”.
Consideremos os pontos de Chilton. Existem comentaristas que
sustentam haver detalhes na Bíblia que não são importantes? Eles estão
dizendo que quando lemos, estudamos, meditamos e expomos uma passagem
da Escritura, devemos desconsiderar ou ignorar os detalhes e ir apenas para o
cerne da questão? Sim, existem comentaristas que advogam isso. Tem havido
uma tendência por parte de alguns exegetas Reformados e evangélicos de
dizer que deveríamos considerar detalhes em algumas passagens como
informação meramente para colorir. Impressionantemente, mesmo o grande
B. B. Warfield diz algo semelhante em seu ensaio sobre a cronologia bíblica,
argumentando que o registro cronológico de Gênesis 5 e 11 não é importante.
(Veja meus comentários sobre isso em meu artigo, The Biblical Chronology
Question: An Analysis).

Essa é uma armadilha na qual é fácil cair, particularmente se os detalhes
não parecem exigir uma análise. Por exemplo, 2 Samuel 11:4 diz que quando
Davi dormiu com Bate-Seba, então, “quando ela se purificou da sua
imundícia, ela voltou para sua casa” (versão do autor). Muitos exegetas simplesmente diriam que isso se refere ao costume israelita na lei de Levítico 15, e então prosseguiriam para o próximo versículo. Todavia, sugiro que deveríamos considerar porque o Espírito Santo nos dá essa informação. Davi
tinha falhado em se purificar? Minha sugestão é que Davi não se purificou,
sabendo o que o rito significava. Na verdade, visto que a Arca estava no
campo e a guerra santa estava sendo conduzida, era esperado que Davi
evitasse toda mulher (1Sm. 21:4; 2Sm. 11:11), de forma que sua impureza não
era uma impureza inocente, mas um desafio deliberado à lei cerimonial de
Deus (além do adultério!). Além do mais, uma análise do Salmo 51 mostrará
que Davi menciona todo tipo de impureza discutida em Levítico 11-15.
Assim, impureza é na verdade um tema importante na história. Contudo,
veremos isso apenas se tomarmos os detalhes seriamente.

O segundo aspecto do “maximalismo interpretativo” que Chilton
menciona é que tudo no Antigo Testamento aponta para Cristo. Existem
alguns expositores que negam isso? Certamente sim. Muitas Bíblias King James
antigas têm uma estrela próxima àqueles versículos isolados que profetizam
Cristo. A suposição é que o restante dos versículos não profetiza Cristo.

É contra essa abordagem que estou argumentando em meus
comentários na introdução a Juízes. Existem aqueles no mundo evangélico e
Reformado que crêem que somente certos versículos e passagens do Antigo
Testamento profetizam Cristo, e que sabemos quais são esses versículos
porque os mesmos são citados ou mencionados no Novo Testamento. Em
outras palavras, as únicas profecias e tipos são aqueles que o Novo
Testamento especificamente menciona.

A outra posição, igualmente Reformada e evangélica, é que tudo no
Antigo Testamento aponta para Cristo. Essa posição sustenta que os tipos e
profecias específicos mencionados no Novo Testamento fornecem a nós
exemplos e padrões a serem seguidos, mas que também podemos encontrar
outros no Antigo Testamento. Além do mais, essa posição mantém que alguns
aspectos do Antigo Testamento são tipos e profecias mais diretos e
específicos, enquanto outros aspectos são tipos e profecias mais vagos e
gerais. Era nisso que a maioria dos meus professores no seminário criam.
Agora, o que escrevi em Judges (p. xii) é isso: “Temos que explicar isso
[i.e., a questão sobre tipos e profecias] para nos distanciar do ‘minimalismo
interpretativo’ que passou a caracterizar comentários evangélicos sobre a
Escritura em anos recentes. Não precisamos de algum versículo específico do
Novo Testamento para ‘provar’ que determinada história do Antigo
Testamento tem dimensões simbólicas. Antes, tais dimensões simbólicas são
pressupostas no próprio fato que o homem é a imagem de Deus. Assim, não
deveríamos ter medo de arriscar um palpite sobre os significados proféticos
mais amplos das narrativas da Escritura, à medida que consideramos como acordo com o tipo de interpretação usada pelos Pais da Igreja.”

Ora, isso é tudo o que escrevi e tudo o que quis dizer. Interpretando o
Antigo Testamento “maximalisticamente”, como usei o termo, significa
simplesmente tentar lidar com a dimensão tipológica, estando aberto para
encontrar Cristo na passagem. Existem exegetas Reformados e evangélicos
que discordam disso. Ao mesmo tempo, existe uma multidão que compartilha
da minha visão também.

Na verdade, penso que aqueles que tomam esse tipo de tipologia
seriamente são as únicas pessoas que fazem justiça à dimensão bíblicoteológica
da interpretação, e minha crítica ao tipo de “teonomia” de Bahnsen
e Rushdoony é precisamente o fato de eu achar que eles não fazem justiça a
essa dimensão. Em comum com a maioria dos meus professores, creio que os
“métodos” gramático-históricos de interpretação precisam ser
complementados com considerações bíblico-teológicas, e isso é o que
procurei fazer em minha obra. (Sobre “teonomia” veja James B. Jordan,
“Reconsidering the Mosaic Law: Some Reflections — 1988”.)
Sem dúvida, se alguém quiser desafiar algumas das minhas sugestões
interpretativas específicas, não tenho nenhum problema com isso. As
introduções a todos os meus livros declaram claramente que não estou
tentando dizer a última palavra, mas apenas uma palavra útil. Receberei com
alegria interações que estejam baseadas no texto da Escritura.

Deixe-me concluir dizendo que não uso o termo “maximalismo
interpretativo”, e não me chamo um “maximalista interpretativo”. Usei as
palavras “minimalismo” e “maximalista” na tentativa de dar a leigos uma
compreensão da variedade comum da teologia bíblica. (O termo pareceu mais
fácil que frases como “tipologia homológica.”)
Um Pouco de Bibliografia
Posso recomendar meu próprio estudo de tipologia, Through New Eyes:
Developing a Biblical View of the World (Brentwood, TN: Wolgemuth & Hyatt,
1989), para mais informação sobre minhas visões. Estudos bíblicos que achei
úteis (não a última palavra!) para abrir a cosmovisão simbólica bíblica incluem
Images of the Spirit (Grand Rapids: Baker, 1980), de Meredith G. Kline; A
Rebirth of Images (Gloucester, MA: Peter Smith, 1949), de Austin Farrer; e dois
comentários de Gordon Wenham, Leviticus (Grand Rapids: Eerdmans, 1979) e
Numbers (Downers Grove, IL: Inter-Varsity, 1981). O livro de Apocalipse é o
clímax simbólico da Escritura, e nada se compara ao comentário de David
Chilton, The Days of Vengeance (Fort Worth: Dominion Press, 1987). Muito útil também é o comentário de G. Lloyd Carr sobre Cantares de Salomão: The
Song of Solomon (Downers Grove, IL: Inter-Varsity Press, 1984).
Um estudo valioso da abordagem redentiva-histórica como foi
desenvolvida nas Igrejas Reformadas da Holanda é Sola Scriptura: Problems and
Principles of Preaching Historical Texts, de Sidney Greidanus (Toronto: Wedge
Pub. Co.; 1970). Greidanus coloca seus princípios em prática em seu livro The
Modern Preacher and the Ancient Text: Interpreting and Preaching Biblical Literature
(Grand Rapids: Eerdmans, 1988). Infelizmente, esse livro não tem seções
sobre pregar a lei e pregar profecia simbólica, e a falha de Greidanus em lidar
com esses dois temas, e integrá-los no restante da sua metodologia, é uma
fraqueza em seu livro.

Uma abordagem redentivo-histórica popular da Bíblia é a série de
quatro volumes de S. G. de Graaf, Promise and Deliverance (Phillipsburg, NJ:
Presbyterian & Reformed Pub. Co.). Muito mais profundo, e disponível
somente em mimeógrafo (e dignos de se ter!) são as séries de livros da
História do Antigo Testamento por Homer Hoeksema.1 Cada um desses
volumes fornece excelentes insights redentivo-históricos ao texto. Eu li todos
esses livros anos antes de eu escrever Judges, e esse é parcialmente o motivo de
eu ficar impressionado quando as pessoas consideram o que escrevi em Judges
como novo ou diferente. Para mim, isso é coisa antiga.

Finalmente, três livros recentes relevantes para a exegese bíblica
precisam ser mencionados. Eles são Symphonic Theology: The Validity of Multiple
Perspectives in Theology, de Vern S. Poythress; Science and Hermeneutics, também de
Poythress; e Has the Church Misread the Bible? The History of Interpretation in the
Light of Current Issues, de Moises Silva. Esses dois homens ensinam no
Westminster Theological Seminary. Eles apresentam o tipo de modelos
hermenêuticos que considero como ideais, e recomendo altamente suas obras.